A PROVA DO TEMPO RURAL ANTES E DEPOIS DOS 12 ANOS DE IDADE
A rigor, nada muda
na análise do tempo de serviço rural, digo, a lei não faz qualquer distinção.
Contudo, não há
dúvidas de que, para o reconhecimento do tempo rural antes dos 12 anos, alguns
juízes estão exigindo algo mais. O que se percebe é um deslocamento da
discussão para uma realidade diferente, vale dizer: para além do que se
considerava suficiente, como documentos rurais em nome dos pais e prova
testemunhal idônea, confirmando o trabalho rural pela família. A atenção agora
recai sobre a figura da criança do autor, lugar onde devemos analisar,
guardadas as devidas proporções, o que ela fazia.
É inevitável a
associação do trabalho antes dos 12 anos de idade com o trabalho escravo e,
talvez por isso, alguns juízes estejam esperando da prova algo parecido com o
trabalho em ninas de carvão ou coisa parecida. Alguns procuradores do INSS, nas
audiências, só faltam perguntar se a criança era quem sustentava os pais – uma
total inversão das coisas. Uma vez mais, aqui, chama-se atenção para os
pré-juízos (in)autênticos.
Seja como for,
estamos diante de uma realidade diferente. Admitir isso é condição para se
construir soluções e tentar reverter o grande número de pedidos julgados
improcedentes, mormente no âmbito dos Juizados Especiais Federais. É importante colocar um dos possíveis motivos para isso.
Querem ver como? Uma explicação em termos mais simples, ao lado de um exemplo, pode ajudar. Agora ganha destaque o fato de a criança não ter estudado, pois precisava
trabalhar na roça. Na fundamentação, o juiz alega que a criança estudou até a
quinta-série, logo, não tinha ela tempo para ajudar os pais. Pelo contrário.
Houvesse o juiz atentando para os boletins escolares teria visto que ela
repetiu de ano três vezes! Por quê? Porque era difícil conciliar o trabalho
penoso com os estudos. Veja o número de faltas! Neste nível, seria prudente chamar como testemunha a
professora da primeira série.
Pegaram a visão?
Este artigo é meramente exemplificativo! Faço questão de deixar claro que estou trabalhando com aquilo que, na maioria das vezes, fica retido no discurso, ou seja, no não dito, pois a ausência de fundamentação é outro problema.
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