MENTIRAS CONVERTIDAS EM REFORMA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL E VICE-VERSA
Na tarefa de buscar a aceitação da sociedade, dados importantes são
simplesmente desprezados pelas vozes oficiais, como o fato de que Confins, PIS,
Pasep e CSLL são contribuições sociais, que reforçam o orçamento da Seguridade
Social. Não bastasse isso, os diferentes regimes são adredemente misturados,
colocados igualmente no mesmo saco, como se
compartilhassem do mesmo orçamento. Tudo isso para sustentar o déficit no
Regime Geral de Previdência Social.
Acontece que a Seguridade Social não abrange os
regimes próprios de previdência social, bem como aquelas modalidades de
inatividade destinadas aos militares, embora esses dois sistemas também se
destinem, em sentido lato, à proteção social de servidores públicos e
militares, respectivamente. A proximidade entre os regimes é uma tendência
(normativa), mas os recursos que financiam cada regime são distintos. Com
efeito, os regimes não devem ser confundidos, pois assim se perde dados
fundamentais – para todo e qualquer debate sério sobre a reforma da previdência
social.
A Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado
Federal, destinada a investigar a contabilidade da Previdência Social, concluiu
o relatório que sistematiza os principais pontos abordados no âmbito da CPI da
Previdência Social (CPIPREV), esclarecendo com precisão as receitas e despesas
do sistema, bem como todos os desvios de recursos.[1] Os seguintes parágrafos
são emblemáticos:
Com todo esse complexo cenário, falar
simplesmente de déficit da Previdência, a partir do comportamento das receitas
e despesas atuais da seguridade social como um todo, é mitigar a realidade. Ao
desconsiderar as práticas do Estado, que durante todo o período de existência
da previdência retirou recursos, esvaziou suas receitas, protegeu inadimplentes
e ainda financiou projetos de construção e mesmo, mais recentemente, políticas
rentistas de pagamento de juros, o debate meramente atuarial sobre déficit ou
superávit da previdência perde essência e conteúdo, e a discussão sobre o tema
deve se constituir em outros parâmetros, como procuraremos demonstrar neste
relatório. (pp. 41 e 42)
Em várias exposições e falas, reverberadas em diversos documentos, é possível inferir de forma categórica que a grande vontade por parte da União em frequentemente promover reformas no sistema previdenciário brasileiro, vai além do cuidado com as gerações futuras, mas muito mais em garantir margens cada vez maiores de recursos financeiros para a sua gestão, com destinação distinta a que a contribuição está vinculada. Tal linha de raciocínio é muito singela: o governo federal tem interesse nos recursos da seguridade social, pois são recursos que constitucionalmente a União não é obrigada a repartir com os outros Entes da Federação. (p. 139)
Por pior que andem muitos regimes próprios de
previdência social, a Seguridade Social não deu sinais de eclipsar-se. Mesmo
assim, e em comparação com os servidores públicos, os trabalhadores da
iniciativa privada é que mais sofrerão com as mudanças pretendidas, já que não
contam com estabilidade no emprego, para citar apenas uma das desvantagens no
que diz respeito à necessidade de sobreviver, com o mínimo de tranquilidade,
até os 65 anos de idade.
Nesse processo, nada democrático e insensível,
querem fazê-lo acreditar que seus direitos estarão assegurados, enfim, que não
haverá sacrifício algum por parte de quem já está com uma mão na aposentadoria.
Essa declaração é enganosa - e egoísta, diga-se de passagem.
Mesmo admitindo-se a necessidade de mudanças no
sistema da Seguridade Social (RGPS), até mesmo na parte da idade mínima, um dos
maiores problemas da PEC 06/2019 é, exatamente, a falta de regras de transição,
- que tem como finalidade amenizar as consequências dramáticas impostas pelas
novas regras (permanentes) aos já filiados. Isso porque as regras chamadas de
transição são, literalmente, inalcançáveis, até mesmo para quem está na
eminência de completar o tempo de contribuição.
As mentiras propagadas pelo governo - que se
vale de uma clara divisão política - atentam não apenas contra o princípio da
moralidade, mas da realidade. As vozes oficiais não estão falando sobre o que
está escrito na PEC 06/2019. Isso não é uma polêmica, uma discussão, que se
possa vencer ou perder por meio de razões. A mudança vem em benefício dos mais
poderesos (ou dos mais malandros) e em prejuízo dos cidadãos comuns, carentes
de fortuna e privilégios. Coisas boas precisam ser procuradas como agulha no
palheiro.
Somente com informação é que se pode debater e,
consequentemente, resistir. A questão é: informe ao cidadão o que está em jogo
e faça o sentir-se bem com isso!
Escrito por Diego Henrique Schuster
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